segunda-feira, 14 de maio de 2018

Um pouco de história da flexo no Brasil (vividas por mim)

Quando iniciei no mundo das artes gráfica a tipografia era um processo atual e muito utilizado e montador e retocador de fotolito eram contratados a “peso de ouro”.
A busca por impressores off-set nos classificados dos principais jornais do país ocupam de uma a duas páginas e quem era diagramador tinha status de executivo.
Tempos em que o profissional era valorizado pelo seu conhecimento e desempenho e o conhecimento fazia a diferença. Tempos onde as empresas colocavam “plaquinhas” em suas portas em busca de profissionais e a entrevista era feita pelo encarregado que colocava você na frente do equipamento para um “teste prático”, onde você podia, por meritocracia, revelar o quanto sabia e assim ser contratado ou não.
Encarregados eram como “capatazes” que vigiavam os funcionários e estes respeitavam a hierarquia e aos comandos dados.
O RH era somente depto. pessoal e o dono ficava no alto de uma sala com um vitro de onde, as vezes, gritava com o encarregado: “sobe aqui, preciso falar com você”.
A flexografia estava engatinhando no Brasil, ainda usávamos clichês de borracha, prensas de vulcanização e baquelite. Cola de benzina estavam sobre as bancadas juntamente com facas feitas de lâminas de serra usada e réguas de plástico carcomidas nas pontas.
A impressão flexo era uma forma de pintar papel ou marcar alguma informação, quadricromia, pantone, tintas UV isso era impensável, na realidade muitos de nós nem sabia o que era ou se existia.
Impressora Brasibérica
Modular, nem se passava na cabeça dos projetistas e tambor central era, na banda estreita, um mercado da Ibirama. Banda larga era conhecida como impressão de embalagens. A gente tinha Horvat, Brasibérica, Tayo Thunder que depois virou Thunder Comat, Rami e outros pioneiros e desbravadores. Lembro-me do Sr. Miguel, da Thunder, me deu um estágio em sua fábrica e me apresentou a Bril Loyd onde fiz um estágio de tintas, aprendi muito lá, este foi um dos percursores da tecnologia e um dos primeiros a escrever sobre flexo nas revistas gráficas especializadas e se não o primeiro em trazer o conceito da FTA para o Brasil, um grande homem, em todos os sentidos ele tinha quase dois metros (se não mais...rs).
Sr Miguel sendo homenageado
A Divani era uma potência, tinha unidades distintas para impressão de sacos multifoliados em papel, impressão de embalagens papel e plástico, nesta época o Mappin era o que mais se aproximava de um shopping center e a Mesbla era a segunda opção de compras.
A Toga ainda era uma única empresa e a Dixie dominava a fabricação de copos descartáveis de papel, não existia copos em PS.
Notas fiscais eram impressas em matricial e o carbono fazia parte de tudo, desde o bloco de pedidos do vendedor até no contracheques do funcionário.
Antigo prédio do Mappin
As tintas não havia muito evolução ou era a base de água para impressão de papel do tipo caixas de papelão e sacos de “padaria” ou solvente para impressão de plástico, que neste caso só existia duas opções também ou a embalagem era de Polietileno (PE) ou de polipropileno (PP), uma ou outra variável na composição do PE para sacos de leite. Isso mesmo, o leite era vendido em sacos de plástico nas padarias e todos os dias era necessário comprar o leite, pois este azedava com facilidade.
Embalagem longa vida, foi anunciada a primeira vez no Brasil pelo Pelé em rede nacional, estreando a participação da Tetra Pack no mercado nacional e extrato de tomate era vendido em latas com a foto de um elefante (não entendia o que o elefante tinha a ver com tomate, mas tudo bem).
Café era o Seleto, coado em saco de pano e açúcar o união. Shampoo Colorama e creme de barba era Bozano com certeza. Mas nessa época minha barba não havia se manifestado.
Lembro de acordar as 4h00, tomar café com um pão do dia anterior, manteiga Claybom e café puro. Metrô somente algumas linhas, mas o ônibus era indispensável. Não existia vale transporte ou outro cartões, ou pagava-se em dinheiro ou em passe, um tipo de “ticket” que se comprava com antecedência em postos autorizados. CMTC era a empresa mantida pela prefeitura e Viação Carrão uns ônibus cacarecados que de tão lotados eu viajava na porta.
Ônibus elétrico CMTC linha Pinheiros
Uma condução até o Parque Dom Pedro, caminhada até o Largo do Paisandú e mais uma condução até Barra Funda. Isso tudo com apenas 14 anos de idade. Chegando lá, a Divani me esperava de braços abertos, máquinas sujas de tintas, bobinas para empurrar, clichês para lavar, graxa para passar nas engrenagens, almotolia para pingar óleo nos mancais e muitas ordens de serviço para executar.
Mas ao final do dia, que tinha incríveis 11 horas, a felicidade e o cansaço eram presentes. Feliz por realizar algo diferente e legal, afinal eu tinha 14 anos e criava algo que as pessoas pegam na mão, compravam com os olhos nas gôndulas do supermercado ou simplesmente colocavam suas pipocas nos saquinhos de papel que as SOS produziam. O Cansaço era inerente ao processo, não parávamos por nada, só para almoçar.
Este sim era um prazer de outro mundo! Minhã mãe preparava minha marmita com muito carinho, era o feijão por baixo (estratégia para não vazar o caldo, coisa de mãe), arroz por cima e a mistura. Eu sempre falava para minha mãe esconder a mistura entre as camadas de arroz. Nesta época o furto a misturas de marmita era um delito cometido em muitas empresas, kkkkkk. Eu juro, nunca roubei nenhuma mistura.
Prédio da Matriz Extinta Divani S/A Embalagens
São Paulo/ Ruda dos Americanos 533
E é isso, o tempo foi passando, a evolução acontecendo, a melhoria ocorre tanto no transporte, na alimentação (hoje tem ticket e refeitório e o funcionário ainda reclama, vai entender).
As máquinas tiveram evoluções incríveis, é mais fácil operar, usar e entender o funcionamento.
Tem o Google e o Youtube, pense numa escola que é isso. No meu tempo você mandava uma carta para o fabricante ou pessoa, perguntando o que era e como funcionava e com sorte depois de uns 30 dias recebia uma resposta, as vezes não a que esperava.
Hoje é fácil se tornar profissional em qualquer área. Não existe mais a tipografia, diagramador pode ser qualquer um pois já não existe regras na escrita, postagem ou padrão de estilo. Não existe mais a obrigatoriedade de se fazer um teste prático e o curriculum de uma pessoa é avaliado por quem nunca viu uma máquina no conjunto da obra ou não faz ideia de como a embalagens é fabricada, estas empresas de RH contratadas para “gestão de pessoas”, e ai que tá o problemas, o empresário vai reclamar depois por que e para quem?
Retocador de fotolito ou virou Uber ou evolui para outro profissão da área, por falar nisso nem o fotolito existe mais.
Ibirama Midiflex Pioneira
E agora pergunto, tanta evolução, tando sucessos, tantas profissões e métodos deixaram de existir e a arte da impressão, o impresso, os livros e revistas (pois bancas de jornal já nem se vê), qual será o destino delas nos próximos 20 anos?
Abraços a todos.


Um comentário:

  1. Mto interessante td isso, sou impressor, e aprendi td sem curso, só na prática, e tenho mto orgulho da minha profissão

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